sábado, 16 de junho de 2007

Entre a música e a gastronomia

O que teria em comum a ópera “O Barbeiro de Sevilha” e uma receita de filé com fois gras?

É que ambas nasceram da mente e do talento da mesma pessoa: Gioacchino Antonio Rossini, compositor romântico nascido há 215 anos atrás na cidade de Pessaro, na Itália.

Como compositor Rossini foi nada menos que o homem que mais óperas compôs em toda a história. Além de prolífico, Rossini também é considerado até os dias de hoje como um dos maiores orquestradores de todos os tempos.

Seu talento o tornou muito rico e prestigiado em todo o mundo. No entanto, no auge de sua carreira de vinte anos, retirou-se da vida artística e nunca mais voltou a compor ou conduzir orquestras. Estabeleceu-se em Paris onde passou a se dedicar à culinária, criando pratos e exibindo-os a alguns poucos amigos.

Com isso, Rossini acabaria se tornando o pai de inúmeros clássicos. Não apenas os musicais, mas também da cozinha, como o famosíssimo Filé a Rossini, de presença obrigatória em qualquer compilação de boas receitas, e que continha os ingredientes favoritos do mestre: filé, fois gras, trufas negras e vinho madeira.

Sua paixão pelas artes gastronômicas já vinha de longa data. Quando ensaiava os músicos para a estréia da já citada ópera “O Barbeiro de Sevilha” (aquela da famosa ária Largo al Factotum), escreveu uma carta à soprano Isabelle Colbran, não para falar sobre seu desempenho musical, mas para lhe passar uma receita de trufas:

"Toma-se azeite da Provence, mostarda inglesa, vinagre francês, um pouco de sumo de limão, pimenta e sal. Mistura-se tudo muito bem e juntam-se algumas trufas cortadas, em finos pedaços. A trufa dá uma espécie de auréola, que leva o
gastrônomo ao êxtase"


Ao que tudo indica, as trufas fizeram sucesso. Tanto que Isabella acabaria por se tornar a primeira Senhora Rossini até que ele a abandonasse para se unir à cozinheira Olympe Pélissier.

Rossini morreu em sua mansão nos arredores da capital francesa no ano de 1868. E em sua homenagem, vamos aprender como preparar um Filé a Rossini adaptado por mim com ingredientes mais adequados ao Brasil. Vamos anotar?

Ingredientes:

  • Medalhões de filé mignon;

  • Fatias de pão de fôrma cortadas no mesmo diâmetro dos medalhões, em quantidade equivalente;

  • Fatias de patê de fígado em quantidade equivalente;

  • Manteiga;

  • Vinho madeira;

  • Caldo de carne;

  • Funghi Secchi, e

  • Sal e pimenta do reino

Modo de preparo:

Frite os filés em uma frigideira ou chapa bastante aquecida em um pouco de manteiga. Procure fritar os dois lados dos medalhões de modo a manter o interior da carne quase cru. Tempere-os com sal e pimenta. Na mesma frigideira, depois de fritar toda a carne, doure o pão de ambos os lados usando um pouco mais de manteiga.

Coloque os filés por cima das fatias de pão e por cima de tudo o patê, que deve ser cortado com cuidado e apenas deitado por cima da carne, não espalhado.

Junte o vinho madeira e o caldo de carne na frigideira em que se fritaram os filés. Em fogo alto, vá mexendo a mistura para reduzir o molho. Quando ele estiver bastante engrossado, coe e coloque-o por cima de tudo, em uma travessa. Por fim, decore o prato com o funghi secchi, que deve ser hidratado em um pouco de água com antecedência.

Na receita original, o patê era o maravilhoso e legítimo fois gras e decorava-se o prato com lâminas de trufas negras. Como sei que o orçamento de praticamente todos não permite o uso de tais extravagâncias, esta receita é uma opção simples e barata de um clássico. Apreciem ao som de alguma composição musical de Rossini e viajem no tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente idéia de publicar suas receitas para o domínio público. Sempre ficava com água na boca, mas não sabia como fazê-las.

Melhor ainda é juntar história com gastronomia. Sensacional!

Sucesso na empreitada.

Abraços, Michel.